BEM VIND@!

Vamos falar de coisas da vida?
Vamos falar das coisas. E também da nossa vida.
Vamos trocar idéias! Aqui neste espaço virtual, nesse tempo incomum...
Singularidades.
Para ser cada vez mais si mesmo, estando cada vez mais inteiro no mundo e nas relações.
Pra mudar, para crescer, para transcender...




terça-feira, 6 de setembro de 2011

Escuta...

"Paz sem voz não é paz. É medo." - O Rappa

Como é bom ser ouvido!
Ser lido, notado, compreendido!
Que alegria quando se é aceito
Perfeito!
Como é bom ser percebido!

Ah, que paz que existe naquela atenção especial, naquele interesse que a gente recebe depois de anos gritando pela mesma coisa. E gritar já é desespero mesmo!
Que força há naquele olhar que te lançam quando você já se sente invisível e opta por falar sozinho, e pior, emudecer.
Aquilo que é dito e não é escutado, é repetido.
Aquilo que é dito e é acolhido com respeito e entusiasmo tem o potencial de transformar vidas!

Não é preciso concordar com ideias nem ser conivente com nada. A questão toda não está em confirmar o pensamento, mas sim em confirmar a pessoa.



A Flor e a Náusea
Carlos Drummond de Andrade

Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.

O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Uma flor nasceu na rua!

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
Ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia, mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

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